Escrito por: Rodrigo Basso
Aproveitando o assunto tratado no Falha Crítica 14, sobre classes de
D&D, uma decisão importante na criação de personagens neste sistema é a
escolha da “Tendência” que ele terá.
Tendência é como o personagem se alinha em relação à ética, Bem e Mal, e à
moral, Ordem e Caos. As letras maiúsculas não são por acaso; em D&D, esses
alinhamentos não são apenas perspectivas e parte da personalidade de uma
pessoa: são forças cósmicas que governam o Universo, atuando ativamente no
equilíbrio do(s) mundo(s). As pessoas podem se alinharem de maneira Neutra em
relação a essas forças, mas não podem ignorá-las.
Escolher uma tendência é se posicionar como enxerga o mundo e, mais
importante, como reage às situações que esse mundo apresenta. Naturalmente,
ninguém é consistente o tempo todo, portanto as tendências não são amarras e
nem mesmo engessam a forma como se interpreta o personagem, mas representam o
modo mais frequente que ele se comporta. Como os grandes heróis de qualquer
campanha
de RPG são os personagens dos jogadores, suas tendências, muitas
vezes, decidirão os rumos que a história irá seguir, alterando a balança
cósmica.
Mas o que significa ser bom, mau, ordeiro, caótico ou neutro?
EIXO ÉTICO
BEM: implica em valorização da vida, em auxiliar os outros antes de
si próprio sem almejar recompensas, em amar o próximo, em compaixão e
clemência. Pessoas de alinhamento bondoso são altruístas, colocando os outros
acima de si mesmos, não porque uma lei ou religião os obriga, mas por
acreditarem piamente neste modo de vida. Diante de estranhos com dificuldades,
pessoas bondosas não conseguem ficar de braços cruzados e olhar para o lado,
mesmo quando sabem que não receberão nada em troca.
MAL: implica em prazer ao causar dor e miséria aos outros, em colocar
as próprias necessidades acima das dos demais, em nunca ajudar alguém, ao menos
que isso traga uma vantagem maior ainda pra si mesmo. Pessoas malignas
simplesmente não conseguem criar empatia por outros seres viventes, sendo
indiferentes ao bem-estar do próximo; não hesitam em prejudicar outras pessoas em
proveito próprio. Seres desse alinhamento empenham em causar sofrimento alheio,
pois os fracos (quer dizer, todos os outros) merecem isso,
NEUTRO: em relação ao eixo ético implica em não se empenhar em
propagar o bem ou o mal, apesar de que a maioria prefere ter bons vizinhos a
maus. Pessoas neutras tendem a ajudar os amigos e familiares, mas esperam
receber pelo menos gratidão por isso; diante de estranhos, personagens neutros
ajudam se não lhes custar nada, preferindo não se envolver. Por outro lado, não
prejudicam outras pessoas deliberadamente, seja por temer represarias, seja por
ser contra alguma lei.
EIXO MORAL
ORDEM: implica em respeito às leis e às
autoridades, em manutenção das tradições, em cumprir as promessas e não faltar
com a verdade. Pessoas ordeiras defendem as leis e a hierarquia por acreditarem
que somente numa sociedade organizada e com respeito às normas os cidadãos podem
prosperar. Por outro lado, seguidores deste alinhamento tendem a serem reacionários, não gostam de mudanças, muitas vezes são
teimosos e enxergam o mundo em “preto e branco”, julgando os outros por seus
comportamentos.
CAOS: implica em liberdade, em individualidade, em ações aleatórias e
não reconhecimento das autoridades legítimas. Pessoas caóticas acreditando que
as normas e leis da sociedade restringem a capacidade individual de cada um,
preferindo a flexibilidade à honra, facilmente se adaptando às novas situações
No entanto, seres desse alinhamento tendem à imprudência, agindo por instinto
ou zombando das consequências de seus atos, às vezes sendo irresponsáveis
justamente por não acreditarem em “certo e errado”.
NEUTRO: em relação à Ordem e ao Caos implica em indivíduos que não
são propensos nem em se manterem estritamente à sua palavra, nem gostam de
ludibriam os outros. Pessoas neutras cumpriram suas promessas se acharem
importante, mas não têm dificuldade em mentir, principalmente quando acham que
a verdade causará mais estragos. Obedecem as leis mais por temerem a punição do
que por convicção de as acharem corretas.
Esses dois eixos de alinhamento estão presentes em todos os
personagens do sistema de D&D, combinando-se para formarem nove tendências:
Leal e Bom: são aqueles que ajudam os outros, combatem o mal e fazem
sacrifícios pessoas, mas sempre respeitando as leis. Um policial que não prende
um bandido sem provas mesmo sabendo que ele é culpado é um bom exemplo dessa
tendência. Outros exemplos são: Superman, Capitão América, Paladinos, Rei
Arthur, Ned Stark;
Neutro e Bom: são aqueles que colocam o bem acima de tudo, mesmo de questões
legais e sua liberdade pessoal. Um padre que acolhe um criminoso em necessidade
e o orienta a fazer o correto, mas não o entrega às autoridades, é um bom
exemplo. Outros exemplos: Frei Tuck, Sherlock Holmes, Homem de Ferro, clérigos
em geral.
Caótico e Bom: são os defensores da liberdade pessoal e dos oprimidos, ajudando
os outros de acordo com seu bom senso. Um rebelde que tenta libertar um povo de
um tirano é um bom exemplo. São ótimos exemplos dessa classe Robin Hood, Zorro
e o V (de V de Vingança).
Neutro: também chamados de “full neutro”, são pessoas que não se alinham
com nenhum dos dois eixos, seja por falta de convicção, seja por acreditarem
que o equilíbrio é o melhor caminho. Os animais, os seres irracionais (como os
Golens) e a maioria das pessoas comuns possuem essa tendência.
Leal e Neutro: os que colocam as leis, tradições e normas acima do bem e o mal,
não acreditando na crueldade nem na clemência. Para eles, os que não cumprem as
leis devem ser punidos, não importando o porquê fizeram aquilo. Um juiz que
aplica a lei no dia-a-dia é um exemplo de Leal e Neutro. Outros que possuem
essa tendência são: soldados, Capitão Nascimento, Varis (Game of Thrones), Juiz
Dred, Orion Drake.
Caótico
e Neutro:
são os que põem sua liberdade em primeiro lugar, não se importando com mais
nada e não aceitando que pessoas ou instituições digam como devem viver ou não. Uma pessoa individualista que vive por suas próprias
regras é um exemplo. Outros Caóticos e Neutros são: Jack Sparrow, Dr. House,
Hiei, artistas em geral.
Neutro e Mal: são a essência da maldade, praticando-a sem se preocupar com mais
nada. Seres neutros e maus têm como única preocupação o próprio ser, não se
preocupando com quem precisar ser destruído no caminho para conseguir isso,
obtendo prazer no sofrimento alheio. Um vampiro (os verdadeiros, não esses que
estão em moda no cinema hoje) que mata para aplacar sua sede de sangue é um bom
exemplo. Outros exemplos: Drácula, Toguro Ototo, Szass, Mun-Ha (o ser de vida
eterna).
Leal e Mal: tendência possuída por pessoas que desejam comandar, ordenar e
governas os outros de sua própria maneira, criar uma sociedade de acordo com
seus ideais, não se importando com a liberdade e bem-estar dos outros. Um
ditador tirano que oprime seu povo com suas próprias (e severas) leis é dessa
tendência. Outros exemplos: Palpatine, Sauron, Mestre Arsenal, Darth Vader, a
maioria dos vilões que desejam governar o mundo.
Caótico e Mal: são personagens que fazem aquilo que desejam sem remorsos ou
piedade, causando dor e sofrimento por onde passam. Seres dessa tendência não
veem a vida de outra pessoa como obstáculo para aquilo que desejam fazer. São
inescrupulosos e brutais. Um Serial Killer é um exemplo de pessoa caótica e má.
Outros exemplos são: Coringa (o melhor exemplo de todos), o Charada, Toguro (o
irmão menor).
Os livros de fantasia medieval que utilizam as tendências recomendam
fortemente que os personagens dos jogadores sejam de Bons ou Neutros,
reservando o alinhamento maligno para os vilões do Mestre, mas nada impede que
alguém faça um. No entanto, qualquer jogador que tenha construído um personagem
maligno sabe que não é fácil mantê-lo na mesa de jogo, principalmente com
outros personagens de tendência oposta. Além do mais, os personagens dos
jogadores são os heróis! E seria muito difícil um Caótico e Maligno salvar o
mundo...
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